Por Victor Asselin
A noite ia chegando! Encerrava as atividades! Chegaram, de repente, na minha memória, imagens da propaganda eleitoral. Tudo normal. Entretanto, o meu subconsciente me fez uma pergunta: o que justifica a presença do presidente da República junto a políticos bem conhecidos acompanhado de um insistente pedido do voto do eleitor?
Para desenhar uma tentaiva de resposta, lembrei o ano 2002 e mais ainda o 2003 com a proposta do projeto FOME ZERO do novo Governo Federal e o MUTIRÃO DE COMBATE A FOME da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Era um entusiasmo contagiante. “O Brasil que come ajudando o Brasil que tem fome”. Trabalhava, na época, no sul do Estado e percorríamos todos os municípios da região para comunicar a notícia e iniciar a articulação e a organização do povo.
Era um projeto “em construção” junto ao povo, entendendo que a fome e a desnutrição agravavam a pobreza. De fato, existia fome como ainda existe, não por falta de alimentos mas por falta de RENDA que era mal distribuída. Faltava justiça. Era preciso descentralizar a RENDA. Portanto, a gente dizia que O COMBATE à fome não era um gasto mas um investimento em cidadania e nos direitos humanos. Tínhamos fome de pão e de dignidade. Era preciso assegurar a alimentação e sua qualidade para gerar a criação de empregos que implicará o fim do analfabetismo, da escassez da água e da moradia, enfim um conjunto de políticas públicas. Não era ASSISTENCIALISMO. Era um programa de inserção social. Frei Betto dizia “ENTRAREMOS NA LUTA Á CONDIÇÃO QUE SEJA UMA LUTA AMPLA”
Era previsto que a SOCIEDADE CIVIL seria a grande protagonista e a educação política tinha um lugar de relevo. Era preciso realizar uma mudança de mentalidade. A necessidade da ARTICULAÇÃO e da ORGANIZAÇÃO formavam os eixos centrais de todo o projeto com a prática de uma metodologia que ia romper a dependência.
Muitas lideranças das Igrejas e dos movimentos sociais assumiam as responsabilidades deste projeto junto ao Governo Federal. A motivação era grande. Íamos colaborar para uma mudança estrutural.
Uns anos se passaram e, pouco a pouco, no meio das crises do Governo, os responsáveis se afastaram discretamente e o projeto se transformou em BOLSA FAMÍLIA. Uma distribuição de renda a ser executada isoladamente de todas as políticas públicas tão necessárias para atingir as causas da fome e da dependência. A luta contra a fome tomou um rumo bem diferente. Silenciou o projeto FOME ZERO no âmbito governamental. Não era mais prioridade. E se instalou uma prática de cunho ASSISTENCIALISTA. Por que ? Era mais fácil ? Jarbas Vasconcelos tinha motivo para afirmar que o bolsa-família era o maior comprador de votos ? Eu tenho ainda dificuldade em acreditar. É possível que seja um indício que me conduziria à verdadeira resposta da minha pergunta, expressada no começo deste escrito. Recorrendo às estatísticas do projeto, descobri que 51% do povo do Maranhão recebe o Bolsa-Família. As imagens de propaganda eleitoral que invadem os lares de todas as famílias no Estado não seriam a cobrança pelo FAVOR recebido ? Vamos acordar, gente, o bolsa-família não é um FAVOR, mas apenas um começo de conquista de DIREITO que nunca justificará ou levará a justificar os bilhões desvirtuados para satisfazer interesses pessoais de tantos políticos e justificar práticas imorais. Será que o Bolsa-família colabora para que o presidente conserve seu alto índice de popularidade ? Caso não, estamos de parabéns. Caso sim, precisamos refletir seriamente sobre o nosso desejo de libertação.
Belo e lúcido artigo do padre Victor Asselin.
ResponderExcluirE o pior é que uma boa parte dos militantes sociais,dos setores organizados, dos políticos ditos de esquerda,inclusive alguns que se consideram arautos de uma suposta mudança ou renovação, acomodaram-se e tentam tirar o maior proveito dessa popularidade daquele que considero o maior estelionato político-eleitoral da história republicana brasileira.
Usando a demagogia como arma de coação política, o atual governo Lula impôs a mudança de uma nova classificação do que seria a classe média, assim como difundiu a idéia de que o crescimento econômico diminuiu a desigualdade.
Mas a realidade é que os 10% brasileiros mais ricos em 2000 estão muito mais ricos hoje. E os pobres estão muito mais pobres, exceto o fato de terem ganhado um suposto novo status de classe social.